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Em minha profissão, semanalmente me reúno com pessoas de diversas áreas de atuação, de clientes a fornecedores e parceiros. Uma evidência que posso constatar é de que, exceto quando de conferências com clientes e parceiros que já atuam e são experientes no mercado de renda variável, 90% das pessoas com quem me reúno (e nisto posso até incluir pessoas de meu convívio pessoal, quando o assunto “trabalho” é posto à mesa) dizem:
[alert color=”grey”]Renato, como você está? A bolsa está ruim, né… Melhor ficar de fora não acha?.[/alert]
O fato é que, no momento em que escrevo este artigo, acabo de passar por 4 dos melhores meses de bolsa da minha vida! E isto não só porque fiz operações de compra em ações que seguiram minha projeção e, em grande parte, foram encerradas no lucro. Mas também porque o mercado em ciclos de queda é, em muitas vezes, mas fácil e cristalino de se operar.
Algo que não podemos ignorar é que por trás dos books de ofertas, sempre existem pessoas, que assim como nós, agem com base em razão, mas também com base em emoção (quando falamos do mundo de pessoa-física, é predominante a tomada de decisões com influência emocional, na verdade).
E se partirmos do conceito de que estas pessoas, assim como você que está me lendo agora, tiveram suas primeiras experiências em bolsa com compras visando ganho de capital na valorização do ativo “investido”, podemos atribuir duas emoções a distintos movimentos de mercado.
Aos movimentos de alta, podemos atribuir a emoção da ganância. Afinal, quando estamos comprados e o mercado sobe, quem não sente aquele friozinho gostoso na barriga, aquela sensação de poder, e aquele verdadeiro sentimento de sucesso, que raramente vejo pessoas que não invistam ou atuem na área de mercado financeiro sentirem como nós. Já aos movimentos de queda, pode ser atribuída a emoção do medo, a qual pode evoluir para uma aguda sensação de pânico.
Fato é que, intuitivamente, a ganância tem que superar a zona de conforto, enquanto o medo já se observa na ausência desta. O medo, portanto, enfrenta menos objeções para que se tomem providências imediatas. E estas providências, quando falo sobre investidores que compram ações, consistem muitas vezes em zerar suas posições na incerteza do tamanho que o “buraco” pode atingir, nos momentos de crise. Como um efeito direto, nos movimentos de alta muitas vezes (não é sempre, pois como tudo em mercado, sempre há excessões) o mercado “sobe de escada”, enquanto os gatilhos do medo o fazem “descer de elevador”.
Até aí, você pode estar pensando: “Deixe que desça! É nas crises que surgem as oportunidades de comprar barato”. Mesmo concordando com esta afirmação, lhe proponho uma alternativa… Já ouviu falar em venda descoberta, ou aluguel de ações?
ALUGUEL DE AÇÕES
Operar vendido, ou venda a descoberto, consiste em uma modalidade de operação em que o investidor atua no mercado de forma contra-intuitiva: Busca ganhar com a queda do papel. Para tal, ao invés de comprar uma ação para depois tentar vendê-la com lucro, o caminho é o de VENDER uma ação que você NÃO tem, visando recomprá-la abaixo, e na diferença entre venda e compra, auferir lucros. Como isto é possível? Justamente por conta do mercado de aluguel de ações.
Nosso mercado de ações, por mais que em muitos aspectos ainda seja comparado a uma criança de três anos que começou a dar seus primeiros passos, é em outros desenvolvido e possibilita estruturas complexas assim como os de países nos quais investir em renda variável é algo mais natural e presente na cultura. Uma destas estruturas é o aluguel de ações.
Através de sua corretora de valores (desconheço alguma que não atue nesta modalidade, todas intermediam este tipo de operação), em havendo uma oportunidade de montar uma estratégia que se beneficie da queda das ações, basta solicitar o aluguel destas ações e vendê-las (ou vendê-las primeiro e alugar em seguida, vez que o aluguel pode ser pedido até o dia seguinte).

Muitas vezes, inclusive, este procedimento é automático, dependendo da sua corretora. O aluguel de ações é tomado através do BTC (Banco de títulos e custódia), instituição pertencente à CBLC (Companhia brasileira de liquidação e custódia), encarregada da intermediação desta estrutura. Mas já que o BTC é só um agente intermediário, quem é que aluga para você?
Justamente um investidor que tenha esta ação em carteira e não esteja muito preocupado com as oscilações de curto-prazo. Este investidor pode colocar suas ações para aluguel, em um modelo que é chamado de “custódia remunerada”. Assim, receberá uma taxa ao ano, referente ao custo de aluguel, e isto viabilizará que você especule os rallys mais curtos em cima disto.
O lado bom é que este custo, exceto em papéis de terceira linha, ou com volatilidade demasiada, geralmente não é impeditivo para as operações, variando de taxas baixas como 3% ao ano até taxas como 15%, a depender da linha do ativo (papéis de comportamento menos volátil ou mais líquidos têm maior oferta de títulos, e portanto, aluguéis mais baratos). Cabe ressaltar que, o aluguel do papel gera uma taxa além do aluguel que pode variar de corretora para corretora.
O que é preciso para operar vendido? Basicamente que se tenha margem a margem de garantia pedida pela própria bolsa para a compensação do aluguel. Esta margem é calculada sobre os indicadores de volatilidade da ação e tem o papel de evitar possíveis desfalques no mercado. Uma das vantagens (ou desvantagens, na verdade tudo depende de sua estratégia) é que, da mesma forma como quem compra paga, quem vende, recebe! Sendo assim, quando você vende, este valor da venda entra como crédito em sua conta.
Não vá se animando, pois ele sai logo em seguida na forma de margem de garantia, acrescido do chamado “fator deságio”, uma margem adicional que pode alcançar 40% do valor vendido.
Mas onde está a vantagem, então?
É que se você possuir ações em carteira, pode alocá-las como margem de garantia (há também um deságio, mas boa parte do valor pode entrar). Então vamos supor que você possua R$100.000,00 em ações e faz uma venda a descoberto também de R$100.000,00. Suponhamos que o deságio de ambas as ações seja de 30%. Ok, você usa suas ações como margem de garantia, aceitas na ordem de R$70.000,00, e precisará de mais R$60.000,00 para cobrir a garantia de suas ações vendidas, que totaliza R$130.000,00, de acordo com o valor da venda + fator deságio.
Pense comigo: Você poderia vender ao mesmo tempo da sua compra. E se fizesse isto, precisaria ter somente R$60.000,00 em conta, para ter posições girando R$200.000,00 no total.
Em outras palavras, ao operar o chamado Long & Short (operação de pares entre posição comprada e posição vendida), o aluguel de ações te proporciona condição de alavancagem sem juros (exceto o aluguel). Novamente digo: Tudo depende de sua estratégia, se comporta ou não tal conduta… Uma frase que nunca esqueço é: A alavancagem é como brincar de tiro ao alvo com uma bala de bazuca. Se acertar o alvo, o impacto é muito maior, mas se o tiro sair pela culatra, o estrago é proporcionalmente maior também.
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