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Lembro-me até hoje de uma aula que tive em um curso de formação de analista de mercado (buy-side) em uma escola de negócios que praticamente só me traz boas recordações, na cidade de São Paulo – SP, no ano de 2009. As recordações são boas não apenas pela qualidade dos conteúdos aprendidos, como também pelas pessoas que conheci, com quem tive a oportunidade de desenvolver muitas trocas de idéias, sempre carregadas de insights construtivos que eu não teria tido de outra maneira.
De qualquer forma, esta aula em especial marcou minha memória por um motivo especial. Era uma das primeiras aulas do curso, e o módulo era “Mercado de capitais”. Tínhamos duas aulas por noite, 1h40 cada. No intervalo entre as aulas, havia coffee break, e alguns desciam para matar um tempo no restaurante árabe do outro lado da rua.
Neste dia, optei por descer junto com alguns colegas para o tal restaurante. Um destes colegas, que alguns meses depois se tornou meu sócio no projeto da Omega Invest, levou seu notebook para a mesa do bar. E lá, enquanto uns faziam um lanche e outros falavam das ações compradas na semana (vez que o ambiente deste curso específico como este era propício para despertar os assuntos em comum dos participantes, ainda mais um assunto tão instigante para todos como bolsa de valores), este meu colega não parava de olhar alguns “rabiscos” na tela. Eram gráficos de candles, coisa que até então eu só tinha visto superficialmente e nunca tinha dado muita atenção.
Como interpretar os sinais do mercado
Perguntei a este amigo: “Como é que você consegue interpretar os sinais do mercado através de gráficos?”. Sua resposta foi categórica:
[alert color=”green”]Meu caro, vamos pensar como se uma análise gráfica fosse um produto no qual, para sua entrega, participam distintos departamentos de uma empresa… Assim como na empresa temos a área de pesquisas de mercado e diretoria de marketing, que ditam as tendências a serem seguidas e novas frentes de atuação, na análise gráfica temos o estudo das tendências. Para poder seguir no rumo desta tendência, no entanto, precisamos pedir o conselho do diretor comercial. Este “cara” irá nos apontar se, em sua visão, estamos no caminho certo. Na análise gráfica, este “cara” é justamente um indicador de rastreamento de tendências, como uma combinação de médias móveis, por exemplo. Há ainda, o diretor de compliance, mais “linha dura”, que tem poder de veto sobre nossas ambições. Esta figura representa os osciladores de preço, que podem filtrar nossos posicionamentos quando o momento não é adequado ou o risco não vale a pena ser corrido. Para todos os efeitos, ao fim das contas, nada acontece se não houver dinheiro para financiar o projeto. É aí que o departamento financeiro precisa dar seu aval. No mercado, este departamento é representado justamente pela análise de volume. Mas no fim das contas, o CEO é VOCÊ![/alert]
Aí, conheci o nome de alguns membros desta empresa. Tinha o Estocástico e o IFR do compliance, a Sra. Linha de tendência do marketing, o Sr. Média Móvel da gerência comercial, e o Dr. Volume do departamento financeiro. Ainda, nos intervalos de almoço, todos estes “carinhas” conversam com colegas de empresas parceiras, como o Candlestick, o Fibonacci, as Ondas de Elliott, e até mesmo o carrancudo Sr. “Ombro-Cabeça-Ombro”.
Metáforas à parte, acredito que não preciso nem dizer que comecei a me apaixonar pelo mundo da análise gráfica neste dia. Acredito que seria uma injustiça de minha parte não dar a você a oportunidade de conhecer melhor cada um dos integrantes deste mundo, para que você mesmo possa definir as figuras com quem simpatiza logo de cara.
Estudo de Tendências, Suportes e Resistências – Price Action
Tudo começa com o conceito de topos e fundos. Por mais básico que possa parecer, tudo em se tratando de price action e estudo de tendências tem a ver com a direção na qual são marcados topos e fundos. Em uma definição básica, um topo é um patamar de preço em que, até então vinha sendo aplicado um rally de alta, com predominância de compradores agredindo o book, até que em algum momento, seu “poder de fogo” cessou e inicia-se um rally na direção contrária. O fundo é o mesmo conceito, aplicado de forma inversa: O patamar em que vinha sendo desenvolvido um rally de baixa, entretanto algo ocorre e este movimento cessa dando início a uma pernada de alta.

Mas por que seriam os topos e fundos tão importantes? Simplesmente porque entende-se que um dos pilares de sustentação da análise gráfica é a representação de pontos em que a memória do mercado pode desencadear determinadas reações. A partir de topos e fundos, podemos verificar a direção em que vêm sendo formados. Se é possível observar uma formação de topos e fundos ascendentes, fica claro que estamos em uma tendência de alta. Se, naa contra-mão, o que é visível é uma formação de topos e fundos descendentes, o que temos é uma tendência de alta. Caso não estejamos marcando topos e fundos nem ascendentes, nem descentendes, mas sim uma formação lateral ou afunilada, determinamos que o mercado está sem tendência.
Além de observarmos a relação entre topos e fundos para identificar o contexto do mercado, eles também são, de forma nativa, a primeiras manifestações de SUPORTES e RESISTÊNCIAS.
Suportes e Resistências são paramares de preço em que, por influência da memória de mercado, existe uma dificildade para superação ou perda. No caso dos suportes, há dificuldade de perda, e no caso das resistências, há dificuldade de superação. Pensem comigo: Se no gráfico temos o registro da chamada “memória do mercado”, ao nos aproximarmos de um patamar de preços em que, em um passado próximo, houve a interrupção de uma movimentação, a pergunta que fica no ar, desencadeando tomadas de decisão adversas é: “Será que vai parar de novo?”.
Justamente por isto, quando do rompimento de uma resistência, entende-se que que a tendência está forte ao ponto deste limite rompido passar a atuar como suporte em referências futuras. O contrário vale com suportes perdidos em uma tendência de baixa.

Vale lembrar que quando os mercados estão tendenciosos, boas referências de suportes e resistências são as chamadas linhas de tendência. Obtemos uma linha de tendência de alta ao ligar dois ou mais fundos, quando no contexto de topos e fundos ascendentes. Este valor projetado poderá agir como referência para momentos futuros. Já uma linha de tendência de baixa é obtida ao ligarmos dois ou mais topos, quando do contexto de topos e fundos descendentes.

No entanto, se o mercado desenvolver lateralização, maior a importância atribuída aos chamados suportes e resistências horizontais.

Ao termos alinhamento de fundos ou topos em um mesmo patamar, chegamos aos chamados suportes e resistências horizontais, cuja representatividade é superior à de um topo ou fundo isolado justamente pela reincidência do “efeito-memória” naquele patamar de preços.
Indicadores de Análise Gráfica – Osciladores e Rastreadores
Identificar uma tendência não é, mesmo com toda a teoria por trás, um dos exercícios mais fáceis! Mesmo com todos estes exemplos vistos acima, há momentos em que o ruído de mercado se encontra em níveis elevados, e fica difícil encontrar um direcionamento, até mesmo porque tendências existem em variadas dimensões temporais.
Se eu pegar uma base de 24 meses, e outra de 14 dias, é possível que o direcionamento principal dos topos e fundos seja diferente, ainda mais se estivermos falando de análises em diferentes tempos gráficos (um sendo semanal e o outro, de 60 minutos, por exemplo). Para facilitar esta tarefa, temos os rastreadores de preço. Existem vários tipos, muitos dos quais personalizados e de conhecimento de poucas pessoas. Temos as médias móveis, o parabolic SAR, o HiLo Activator, entre uma infinidade de outros.
Sua função é basicamente a de suavizar os movimentos e trazer uma leitura mais clara. Por uma média móvel, por exemplo, a leitura de uma tendência é simples: Plotando-se a média sobre um gráfico, observaremos o valor da média de preço do número de períodos escolhido. No período seguinte, sai o valor mais antigo da amostra e entra o mais recente.
Com isto, adquirimos mobilidade, e a interpretação é a seguinte: Se os preços estão acima da média, com a mesma inclinada para cima, temos uma tendência de alta e a média oferece suporte a esta tendência. Se os preços estão abaixo da média, com a mesma inclinada para baixo, temos uma tendência de baixa e a média oferece resistência a esta tendência.
Se a inclinação não é relevante e os preços ficam trançando a média, a leitura de tendência naquele período não é clara, temos provavelmente uma lateralização. Como tendências, como já foi falado, existem em variadas dimensões temporais, podemos utilizar médias curtas ou longas, combinando diferentes períodos de médias, podemos ter movimentos primários e secundários em diferentes referências (exemplo: 21 com 100 para uma referência mais longa e 9 com 21 para uma referência mais imediatista).
Dizemos inclusive, quando da combinação de médias, que quando ambas apontam para uma mesma direção, a tendência é consolidada. Quando uma média curta, no entanto, cruza para baixo ou para cima de uma média longa, podemos dizer que as pressões de curto prazo estão exercendo dominância sobre as pressões de memória de mercado mais longas.

Já osciladores de preço, como o IFR e o Estocástico, trazem uma visão diferente. Imaginem como se o mercado precisasse respirar. Quando ele começa a inspirar o ar, os preços sobem, e o indicador acompanha. Em algum momento, torna-se difícil inspirar mais ar. Seu diafragma já está contraído ao limite e não há mais espaço para o ar entrar. Então inicia o processo de expiração, em que o mercado começa a ceder, o indicador acompanha, até o momento em que não há mais ar para soltar, falta espaço para continuidade do movimento, e reinicia-se o ciclo.
Posso dizer que osciladores agem como pêndulos: Apontam limites máximos e mínimos de em se tratando de movimentações direcionais. Na análise gráfica seria um erro, no entanto, apontar que que não há espaço algum para movimentos continuarem vez que entrou em uma área de “limite”, pois ele pode sim continuar seguindo a direção. Osciladores variam em geral de 0 a 100. A diferença é que de 95 para 96, o mercado pode ter andado muito mais do que de 71 para 72, porque o próprio indicador já está tomando em consideração que aquela “aceleração”, em partes, começa a fazer parte do comportamento padrão do ativo.
O IFR é um dos osciladores de preço mais conhecidos. Existem algumas estratégias para operá-lo. Em linhas gerais, podemos dizer que quando estiver acima de 70, já é possível indentificar o mercado em condição de “sobre-compra”, em que começa a haver dificuldade de seguir perene o movimento, assim como no exemplo da inspiração.
Quando está abaixo de 30, por outro lado, é possível identificar uma condição de “sobre-venda”, em que a dificuldade agora é de manter quedas com consistência. Há também a referência da linha de 50, que divide o indicador em duas áreas. Quando acima de 50, perde esta referência, até chegar aos 30 pode haver espaço para uma tendência de baixa, por exemplo, e quando abaixo de 50, superando esta marcação, pode haver espaço para uma tendência de alta até atingir a faixa de 70.

Indicadores de Volume e Fluxo de Dinheiro
Assim como vimos a analogia do departamento financeiro da empresa, a análise de volume nos diz se está entrando dinheiro ou não para satisfazer o “projeto de uma tendência”. Basicamente consiste na representação de quantas ações foram negociadas no período de um candle, ou do volume financeiro transacionado. A análise do volume pode ser dividida em alguns tópicos:
- Volume nas lateralizações: Em geral, uma acumulação nos preços nada mais é do que uma perda de direção de tendência. É como se o mercado parasse e ficasse “morno”. Um indicativo disto é que geralmente o volume, durante uma congestão, vai caindo gradativamente. Mas não se esqueça: É quando as pessoas deixam de voltar seus olhos ao mercado, que algo pode estar prestes a acontecer.
- Volume nos rompimentos: Um elevado nível de volume no rompimento de um suporte ou resistência pode indicar mais espaço para que esta tendência se desenvolva.
- Volume em níveis exuberantes: Já ouviu falar em “efeito-manada”? Costumamos dizer que existem níveis de informação predominantes no mercado. Quando as tendências ainda estão em seu início, o nível de informação de quem está montando posicionamentos a favor dela é bastante elevado, e poucas pessoas estão com as atenções voltadas ao papel. Estes, que já estão se antecipando, são pessoas que estão para acertar o timing do mercado. Quando a tendência já se desenvolveu, muitos começam a olhar com aquele sentimento de “perdi o bonde”, e por influência emocional começam a operar o papel como se aquela tendência não fosse acabar nunca. Neste ponto, o movimento se sustenta por pura manada, e é aí que uma tendência pode estar prestes a ser encerrada.
Como o volume é expresso em quantidades, e não em quantidades absolutas, para saber se está alto ou baixo, uma referência muito utilizada é a média de 21 períodos do próprio volume, como representa a imagem abaixo:

Um pouco à frente existem também os indicadores de fluxo, como o Chaikin Money Flow, o OBV e o Acumulação/Distribuição. O objetivo destas ferramentas é reunir informações ponderadas de preço e volume em um só lugar, sendo nas diferenças entre eles e um gráfico puro, a identificação de distorções, e portanto, oportunidades!
As estratégias Objetivas
Como falei, no início do post, o CEO deste empreendimento chamado “investimento em bolsa” é ninguém menos do que você. A decisão final será sempre sua. No entanto, um bom CEO está sempre cercado de um bom conselho. Se a gestão for técnica, melhor ainda! Sendo assim, por que não colocar um pequeno exército de algoritmos para te apontar as estratégias a executar?
Assim, a disciplina torna-se mais direcionada, os níveis de estresse se mantém dentro dos limites toleráveis, e você ainda ganha capacidades de teste e otimização que não seriam possíveis de outra forma (ler mais em…). Certa vez ouvi de um amigo que nós, como pessoas, acabamos nos tornando a média das 5 pessoas com quem mais convivemos. No mercado de ações, posso modificar um pouco esta frase: Nós somos a média daquelas estratégias que executamos. Se forem boas estratégias, seremos bons traders. Se forem estratégias que deixam a desejar, não é de se esperar algo diferente da frustração como resultado final.
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